Sobre o MIUT
Este ano propus-me a acompanhar o MIUT, Madeira Island Ultra Trail.
Aquilo que me parecia um trail digno de levar qualquer um à loucura, revelou-se uma meta de aprendizagem, de uma beleza inesquecível.
Acompanhei o trail com 115 km, cuja partida ocorreu às 0h do Porto Moniz.
O Evento
Madeira Island Ultra Trail – MIUT Trail Running ultra race at Madeira Island
O ambiente na partida era ora de festa, ansiedade e preparativos, ora de silêncio, descanso e meditação. Alguns atletas descansavam nos muros junto ao mar, outros deitavam-se na relva para aproveitar os últimos minutos em posição horizontal.
A partida, tal como a chegada, teve momentos de grande emoção, mas emoção suprema foi a vivida entre trilhos, longe da vista dos demais; a que só quem participa, é que pode contar, não eu.
Vídeo da partida : MIUT 2017
Posso apenas falar do que vi e senti ao longo das 17 horas que acompanhei o trail.
Vi atletas que chegavam aos postos de abastecimento, completamente desmoralizados e desiludidos com a sua prestação.
Atletas “com a pica toda”, desejosos por continuar a correr, comer rapidamente, encher as garrafas de água e seguir caminho.
Atletas com frio, músculos doridos, e que não aguentavam mais degraus, mais feridas, ligaduras ou escoriações de quedas no escuro.
Atletas que desistiram e aceitaram a interrupção em paz.
Atletas que desistiram inconformados, de lágrimas nos olhos.
Atletas desidratados, com gastroenterites agudas e tonturas.
Atletas em forma, à altura da prova e preparados para o que estava para vir.
Vi sorrisos, lágrimas, olhos nos olhos, abraços e beijos demorados, a fugir.
Ouvi palmas e gritos loucos de incentivo.
Vi filhos orgulhosos dos pais, mulheres orgulhosas dos maridos e vice-versa.
Felicito a organização pelo apoio profissional, exemplar.
Assisti à beleza do ambiente desportista, de excitante cooperação e companheirismo.
Encantei-me com as paisagens deslumbrantes:
O ziguezaguear do movimento das luzes dos atletas na Ribeira da Janela…
O nascer do dia na Encumeada…
A imponência das montanhas do Curral das Freiras…
O insustentável resplandecer da Penha d’Águia, na Portela…
O segredo para atingir a meta do MIUT pareceu-me básico: estar preparado, fisicamente e psicologicamente. Treinos com disciplina e coragem. Escolhas assertivas de equipamento e alimentação. Conhecer o percurso, saber parar quando é preciso e cuidar bem de si.
Depois vem tudo o resto, o inexplicável… a sorte, o bem-estar no dia da prova, o clima.
No entanto, vi muitos atletas que pareciam ter tudo isto a favor e que mesmo assim não conseguiram atingir os objetivos.
O que faz a diferença?
Falei com alguns atletas que chegaram ao fim. A resposta foi comum.
“Quando me apetecia desistir, lembrava-me que estavam à minha espera no próximo posto de apoio. A mulher, o marido, os filhos, os amigos ou os companheiros de corrida. Não podia simplesmente desistir, tinha que lá chegar. “
“Do lado da espera”, vi a minúcia com se prepara a chegada de um atleta, para que naqueles minutos de pausa não lhe falte nada. Roupa, medicamentos, sais, gel, vaselina, água com gás, batata-doce, banana, canja de galinha, arroz, batata frita, chocolate, muita água…
Vi mulheres que corriam trilho fora, porque o marido se tinha esquecido de levar o boné.
Vi atletas que perderam tempo a voltar para trás, porque se tinham esquecido de receber o beijo de boa sorte.
Vi atletas que corriam lado a lado, e diziam um para o outro; “Vou estar contigo.”
Fez-me lembrar as chegadas/partidas do aeroporto.
O amor e a amizade estavam em todo o lado e, neste caso moveu montanhas…
Aprendi que como em tudo na vida, o segredo para chegarmos à meta está na resiliência, na inteligência, na capacidade de atrevimento, no amar e ser-se amado.
E tu, atreves-te?