“No meio é que está a virtude?
Nunca soube ser mulher de meios-termos.
Nunca soube pedir pão com pouca manteiga, bolos com pouco acúcar ou bicas claras.
Não compreendo sexo indefinido, relações mal acabadas, sol tapado com a peneira e muitos outros conceitos de sub-aproveitamento.
Se é para ser então que seja, “sem nada ou com muito” é o meu lema no que se refere a sentimentos ou questões de gosto.
Não consigo gostar “mais ou menos”, embora queira muito atingir o virtuoso equilíbrio.
Serei então uma desequilibrada assumida, por natureza ou convicção.
Isso traz-me tantas desilusões, a mim e aos que me rodeiam e só eu sei o que me custa. É que logo que estou a atingir o equilíbrio supostamente necessário para viver em harmonia, não hesito em puxar-me o tapete e caio de 4 no chão.
Fico por lá um bocado, a pensar porque é que tenho esta mania auto-infligida.
Logo (ou não), devagar e com nódoas negras, lá me levanto de novo, pronta para a próxima queda ou voo (depende da perspetiva).
Quando voo sou leve, como os apaixonados que andam cheios de força e podem com o mundo- Ah! “Droga da boa”.
Quando caio, estatelo-me, fico atordoada da queda e de mim própria, está claro. É que tenho este defeito desgraçado de me acoitar com um cão que gane, de lamber as feridas e de sentir até um certo conforto neste jeito animal e primário.
Dá-me esperança que o futuro possa ser melhor, essa arrogância ainda não morreu em mim.
Tenho que acabar com isto.
Vou pedir aos deuses da sabedoria que me iluminem. Que me dêem a virtude de encontrar o ponto mediano da vida, onde todas as coisas flutuam suavemente.
Lamentavelmente, o suave e imperturbável não fazem o meu género.
Gosto de “carne e osso”, de lágrimas e de gargalhadas, de expressões que nos identifiquem como seres humanos, do que é sentir o bom ou mau, o justo e o injusto, o preto e o branco.
Se é para assinar por baixo então que seja como está no bilhete de identidade, ou assumimos que não percebemos nada do que somos ou do que andamos a fazer?
Diabo dos genes.
É que olhando à minha volta, parece-me ser recessiva a tendência.
Vejo a grande maioria das pessoas em equilíbrio, tal como numa posição de Yoga que nem com uma ventania cedem, ficam por ali imóveis tipo porta-bandeira ou cedem aos cigarros, à bebedeira e aos comprimidos.
Ou será que nos corrompe por dentro? Vai-nos adulterando a alma, o coração e a cabeça para atingir a bendita qualidade equitativa, até restar simplesmente o que é mecânico, automático e desprovido de vida.
No meio é que está a virtude? Sem dúvida, mas há dias que custa tanto lá chegar…
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