Um dia destes, ouvi alguém descrever o seu dia ideal no Funchal.
Incluía uma ida à praia, um mergulho no mar seguido por um almoço de lapas, bolo do caco e coral.
O meu dia ideal passa pela Marina do Funchal, num passeio pela Avenida do Mar até ao cais, a caminho da zona velha.
Há qualquer coisa neste local, que me faz sentir em casa.
Não sei identificar o quê, precisamente, mas acho que tem a ver com a ligação emocional e estímulos que recebo quando por lá passo.
Em criança, lembro-me de dar passeios ao Domingo até ao cais para ver os barcos (antecedido de corridas no relvado do Parque de Santa Catarina).
Lembro-me do barulho das ondas, do calhau a rolar na praia de areia preta (ao pé do já “falecido” barco dos Beatles), dos bancos no cais e do vento que soprava forte quando se chegava ao fim.
Já nos meus dias de teenager, a Marina do Funchal era o ponto alto das minhas tardes depois da escola.
Dias de; dar 2 voltas à saia da farda para usar mini saia, passear com as amigas, contar segredos, escancarar-se a rir e sentar-se nos muros pintados da marina a comer batatas fritas com molho, num cone de papel e muito sol.
Não havia internet, nem chats, nem computadores à nossa espera, só bilhetes de papel rasgado, que se encontravam escondidos nos bolsos da mochila e actualizações de perfil escritas nos azulejos da casa de banho da escola.
Essa nostalgia deixa-me feliz.
Para os meus filhos e gerações futuras serão certamente outros símbolos, outras vivências e emoções, mas é bom sentir que há coisas que permanecem idênticas a si próprias, quando tudo em volta muda.
Há 2 cafés na Marina que me encantam pela sua genuinidade e charme; O “verdinho” e o “vermelhinho”.
Normalmente estão cheios de turistas, à procura do sol, da cerveja com tremoços e das belas vistas para o mar mas também de madeirenses que lá param para uma bica, um picado ou uma ponha.
Se a minha missão fosse desenhar cadeiras para os cafés do Funchal seriam todas iguais a estas. Adoro.
Olho para elas e faço viagens no tempo, aos jardins da minha avó, às casas das minhas tias no campo e neste caso, à Marina.
Acho que estas imagens de marca, devem ser valorizadas e estimadas. Julgo que fazem magia e actuam como um super estímulo visual para os lugares que acarinhamos e aos quais nos ligamos emocionalmente.
Tal como os elétricos são imagem de marca de Lisboa, ou os autocarros vermelhos de Londres, a Madeira está cheia de figuras que nos ligam emocionalmente e que os madeirenses entendem.
Estão incluídos os táxis amarelos, os autocarros da rodoeste, as flores de papel dos arraiais, as botas de vilão, os chapéus dos carreiros, os cestos de vimes, as flores (não só a estrelícia, mais os sapatinhos, para mim) e tantas outras “cenas” fantásticas que temos. As cadeiras de ferro pintadas de branco são apenas mais uma delas.
No Verdinho e Vermelhinho acho-lhe piada também ao nome com a sua terminação em ‘inho’ tão típica do nosso dialecto e as almofadas a combinar com a dita cor.
(Se calhar dispensava a música do Chris de Burg e a sua ‘Lady in red’ que toca nos altifalantes, mas pensando melhor, sem ela, não seria a mesma coisa :))
Bem dizem que uma imagem vale mais que mil palavras…e este é um bom exemplo de como ao olharmos para determinadas imagens facilmente compreendemos onde fica, verdadeiramente, a “nossa casa”.
Qual a imagem onde mais identificam a “vossa” Madeira?
Não a Madeira “para turista ver” mas aquela imagem ou objecto que vos diz mais.
Para mim são estas cadeiras, vai-se lá perceber…;)