Nas palavras da minha amiga Eduarda:
Há 2 semanas, quando fazia o percurso, para ver nascer o sol no pico ruivo, lembrei-me desta frase de António Machado: “O caminho faz-se caminhando.”
Comecei a caminhada no escuro, apenas de lanterna na mão e quase sem perceber com quem estava , pois fora a convite de uma amiga, integrada num grupo que desconhecia.
No escuro, apenas via o trilho e tinha pouco alcance de qual o percurso a fazer.
Comecei a pensar como se igualava à vida, à qual damos início sem saber o que vamos viver e que rumo seguiremos.
Estava frio e sentia-o na cara e nas mãos.
Aos poucos fui aquecendo com o esforço da subida, sentindo por tal já calor e chegando mesmo a pensar se aguentaria o percurso, sem parar ou até desistir.
Mais uma vez, pensei na vida, como as experiências que vivemos nos tornam frios, quentes, tristes, felizes, entusiasmados ou até mesmo inflamados….como duvidamos perante as dificuldades, sem saber se conseguiremos chegar onde desejamos.
Continuei confiante.
De como por vezes precisamos de um empurrão para ir para a frente e noutras temos que lutar contra o vento, para seguir as nossas escolhas. Surgem contrariedades que são como os ventos cruzados…
A partir desse momento, passei a estar ainda mais atenta ao sentir.
Naquela escuridão, quase só me apercebia do meu caminho, mas olhava para trás e para a frente e sentia a presença de outros e visualizava um trilho de lanternas, como vários pontos de luz alinhados.
Para além disso, à medida que subia, a noite clareava e aproximava-se o nascer do sol.
Lembrei-me então que, por vezes caminhamos na nossa vida, apenas concentrados nas nossas preocupações e metas mas quando olhamos para os lados, cruzamo-nos com a vida dos outros.
Tal como nós, seguem o trilho da vida ora acompanhados ora sós, consoante as circunstâncias e as escolhas.
Enebriada pelo meu sentir e pelos meus pensamentos, cheguei ao ponto de paragem combinado. Já com sede, dirigi-me a uma fonte de água pura, fresca, que me regenerou e me ajudou a tomar novo fôlego.
Pausas ….. A vida também é feita de pausas, para refletir, para continuar ou fazer novas viragens.
Avizinhava-se o caminho mais duro.
Lembrei-me das parcerias na vida, com a família, o companheiro, os filhos, os amigos ou mesmo com colegas de trabalho.
Na verdade, a “união faz a força” e proporciona-nos o sentimento de caminhar mais acompanhados e confiantes, mesmo que o desafio, em determinados momentos, seja só nosso.
Cheguei ao topo, ao destino final, com uma sensação de leveza e bem-estar incrível.
Senti também o quanto a vida, mesmo perante as vicissitudes, pode trazer-nos tantos ensinamentos, nos desafios que nos coloca.
A descida, fi-la com a confiança de quem já conhece o caminho e não tem dúvidas.
Se tinha subido, mais facilmente desceria, mas surpreendi-me com a diferente perspetiva que a descida me oferecia e o quão, com aquela confiança adquirida, pude observar outros pormenores que a luz do dia desvendava.
As coisas mais subtis despertavam em mim prazer e a sensação plena do desfrutar.
Quando prestamos atenção, sentimos a vida no seu todo.
E assim, sem lembrar-me de nenhum momento em particular da minha existência mas considerando todos os momentos até ao presente, senti que, naquele dia, fiz o caminho da vida. Tudo está certo, tudo faz parte.
Eduarda Freitas
Psicóloga
Um grande obrigada à Eduarda pela partilha e inspiração para muitas mais caminhadas…
“O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.” Fernando Sabino 🙂
Um Abraço
Sofia
Nota: Este passeio foi organizado pela Nature Meetings. Inscrevemo-nos via Facebook, e encontramo-nos ás 6 da manhã no Homem em Pé, Santana. A subida demorou cerca de uma hora. O sol nasceu às 7:20. Seguiu-se o pequeno almoço e uma degustação de vinho Madeira, na Quinta do Furão.
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