Quando as palavras valem mais que mil imagens…
A minha Ilha
Lá, o mar abraça-me;
embrulha-me em carícias frescas
com a electricidade de uma amante
que quer mais e mais de mim.
Lá, o sol confia em mim;
entrega-me o seu calor aos poucos
escurecendo a pele de cor em cor
sem temer que o abandone.
Lá, a brisa conhece-me;
sabe que sei o que sussurra
às folhas grandes e pequenas
nas tardes que passa comigo.
Lá, na minha Ilha,
conheço o chão e o horizonte.
Sei onde acaba o mar profundo
e começo eu — um imenso oceano.
Gonçalo Taipa Teixeira
Biografia
O Gonçalo (sim, vou falar na terceira pessoa, para já) nasceu no Funchal há já alguns anos.
Filho de um madeirense e uma vilacondense, foi metido num avião pela primeira vez aos 3 meses de vida, para ir conhecer os avós maternos.
Viveu até os 4 anos de idade em Lisboa, porque a vida dos progenitores assim ditou, altura em que foi devolvido à Ilha natal.
Numa adolescência de karate, canoagem e vontade de ler tudo menos os livros da escola, deixou crescer o cabelo até meio das costas por pura teimosia — e um pouco de vaidade, admita-se.
Pelo gosto pelos animais e pelos documentários da natureza que via com o pai, o Gonçalo lá acabou por ir para a universidade, no Porto, procurar a biologia.
À terceira tentativa lá acertou no curso, depois das efémeras frequências noutros dois cursos parecidos. Mas não era um bom casamento. Foi uma relação de amor-ódio que durou tempo demais. Os animais e as teorias empolgavam o jovem teimoso, mas não o apaixonavam.
Como nunca deixou de escrevinhar: http://aluca.blogspot.pt e com o sonho de um dia escrever para audiências maiores que familiares e amigos próximos, decidiu partir numa aventura anglófona, no País de Gales, onde fez, dentro do tempo certo e com nota alta, o curso de escrita criativa e profissional na língua de Dickens.
Voltou ao Porto, depois disso, de onde ainda não saiu. E aí continua a escrever, um pouco menos anónimo, enquanto trabalha como… biólogo.
O teu esconderijo?
Qualquer lugar onde possa estar sem explicar nada a ninguém; imerso no mar, encostado a uma montanha, à conversa com cães, ou numa multidão de desconhecidos.
O Restaurante Preferido?
Depende daquilo que me apetecer comer, e com quem. Havia um restaurante, que a burocracia da higienização fechou, no Porto, onde eu me sentia em casa. Era família. Na Região Autónoma, não concebo ir ao Porto Santo sem ir ao João do Cabeço.
O melhor cenário?
Sem dúvida, a baía do Funchal. Então na noite de passagem de ano, iluminada e a transpirar antecipação pelo fogo-de-artifício, abre-me o sorriso ao ponto de doer as bochechas.
O ponto de encontro?
Se falamos da Madeira, é o aeroporto, porque é onde sei sempre que vou ter família a receber-me. O meu favorito é o Piolho, ou Âncora D’Ouro, no Porto. Há outro que me deixa saudades, na terra onde estudei, Trefforest, que é o Otley Arms. Um pub galês típico com cerveja própria e muitas histórias.
Para sair à noite?
Não tenho dúvidas; a zona velha do Funchal, ou a zona das Galerias no Porto, além do cenário tradicional, emprestam-me descontracção e caras sorridentes.
O que significa para ti “bem madeirense”?
Pensar em “bem madeirense”, para mim, tem tanto de positivo como de negativo. É bem madeirense desconfiar de quem não é madeirense. É bem madeirense falar do vizinho, mas não o julgar com muita severidade. É bem madeirense fazer e não ficar à espera que outros façam.
Como descreverias o teu dia perfeito no Porto?
Um dia perfeito no Porto passa-se com um pequeno-almoço numa esplanada da Foz, almoço com vista para Gaia na Ribeira, lanche com vista para o Porto no cais de Gaia, jantar e refresco nocturno na zona dos Clérigos. Pelo meio há muito para ver e passear.
O que sentes mais falta da Madeira?
Da Madeira sinto falta do mar — o mar no Porto não é o mesmo… Também sinto falta da montanha e das paisagens íngremes, da família (cães incluídos), do tempo que não se perde e das mulheres bonitas…
A tua viagem de sonho?
Viajar é, para mim, um meio para chegar a um fim; viver. Não posso dizer que tenha uma viagem a que possa chamar de sonho. Ando com vontade de voltar ao Reino Unido à procura dos pubs e das suas cervejas e adoraria conhecer a Nova Zelândia e a Austrália.
Muito Obrigada pela partilha Gonçalo!
Beijinhos
Sofia